A História da Arqueologia





Na antiguidade clássica os gregos usavam o termo arqueologia (Archaios: arcaico, antigo; Logos: tradado, conhecimento) para se referir geralmente ao passado monumental e glorioso (LANGER. 1999 p 96) que pudesse ser observado, seja materialmente ou imaterialmente, porém o termo era muito genérico e seu uso pouco sistemático. Vale destacar aqui, que essa percepção da arqueologia como a busca do grandioso, das grandes “civilizações” e das grandiosas ruínas que a denotam, ainda existe até hoje no senso comum da maioria das pessoas, e nosso esforço como divulgadores científicos é demonstrar o equívoco da mesma.


Muitos povos entraram em contato com esses vestígios materiais na antiguidade clássica, porém, como diz Trigger, “o fato é que eles não desenvolveram técnicas específicas para o resgate ou o estudo desses artefatos e falharam completamente no que tange ao estabelecimento da tradição dessa pesquisa.” (2004. P 31). Por isso se sustenta que não tínhamos uma ciência arqueológica ainda.


Da mesma forma que na Antiguidade Clássica, na idade média os estudos e registros arqueológicos eram esparsos e pouco sistemáticos, sendo até menos intensos que na antiguidade (TRIGGER. 2004, P 35), e muitos deles, senão a maioria, eram ligados a artefatos sagrados que remetessem ao cristianismo, sendo os artefatos ligados a Antiguidade Clássica deliberadamente deixados de lado por não serem relevantes ao homem cristão feudal. (LANGER. 1999, p 96)


Porém com as transformações na Europa por volta do século XIV e o início do fim do feudalismo, a forma de ver o mundo começa a mudar, assim como a forma de ver o passado. Maior atenção é dada os vestígios greco-romanos, assim como seus escritos, que durante a Idade Média foram negligenciados, passando agora a nortear o ideal de civilização, que passava e se enxergar degenerada no presente e grandiosa no passado greco-romano. Assim os eruditos da Renascença buscavam alcançar de novo as grandiosas realizações da Antiguidade (TRIGGER. 2004, p 36).


Os eruditos da Renascença são definidos como os responsáveis pelas raízes da arqueologia como disciplina e ciência. E são os humanistas, entre 1300 e 1600, que inauguram esse método ao buscarem estudar a epigrafia e numismática, fortemente apoiados em material literário e histórico. A descoberta por volta de 1700 de Pompéia e Herculano, duas cidades romanas soterradas pela erupção do vulcão Vesúvio em 79 d.C. são significativas para a arqueologia que surge, pois sua riqueza de material arqueológico faz dela um grande destino para uma verdadeira caça ao tesouro, e com o tempo o interesse se estende a arquitetura e obras de arte. Muito embora não se tenha havido uma preocupação com o contexto dos vestígios materiais durante a escavação, esses sítios arqueológicos ajudaram a despertar cada vez mais o interesse por esse passado presente na materialidade.


Outro momento de fundamental importância foi o surgimento dos antiquários, locais onde se colecionavam peças e mais peças, frutos das inúmeras escavações e expedições que cada vez mais aumentavam. Buscavam descrever minuciosamente, e catalogar precisamente as peças, porém sem uma visão além da peça, ou seja, ainda não se buscava entender o homem por trás daquele objeto. Era uma busca do objeto pelo objeto. Porém toda essa sistematização dos objetos nos antiquários, o desenvolvimento da paleografia e da numismática, promovem cada vez mais um maior conhecimento desses acervos, que passa a ser alvo de um interesse comercial por parte de nobres que tinham recursos para montar seus próprios acervos, o que daria origem no futuro a grandes museus como Louvre e o British Museum.


Com todo esse desenvolvimento as expedições não se restringem apenas a Itália, e chegam a Grécia, Egito, África e Ásia. Destaque aqui vai para o Egito, que a partir da invasão de Napoleão em 1798 passa a ser alvo de interesse de inúmeros eruditos como Champollion, nome importante para a arqueologia. Todas essas expedições têm como foco principal a escavação indiscriminada para recuperação de artefatos antigos, sem nenhuma preocupação com o contexto e relação do objeto com o meio em que foi encontrado, ideia essa bem cara à arqueologia atual, mas que naquele momento ainda era desconsiderada.


Ainda na segunda metade do século XVIII começam a surgir muitas publicações arqueológicas seguindo princípios eruditos de observar, registrar e publicar (LANGER. 1999, p 103). E também nas escavações começam cada vez mais uma busca por sistematizar a coleta dos artefatos, e assim superar o antigo paradigma da simples busca por artefatos, e alguns eruditos começam a tecer críticas a esse modelo. Já no século XIX, o expansionismo colonial das potências europeias promove conjuntamente uma expansão das expedições arqueológicas em suas colônias, regadas a muito preconceito e etnocentrismo, porém muito importante do ponto de vista da história da arqueologia. É nesse momento que muitas peças gigantescas foram retiradas de seus locais de origens e levadas a Europa, desde estátuas gigantes a edifícios inteiros. Atualmente muitos desses artefatos estão sendo requeridos de volta pelos seus países de origem, mas não sem muitas polêmicas e disputas.


Até aqui temos o desenvolvimento da chamada Arqueologia Clássica, e como vocês devem ter notado, não teve nenhuma referência ao Novo Mundo, e tão pouco referência a metodologia científica da arqueologia, que é algo que começa com o chamado Histórico-Culturalismo, primeira corrente teórica da arqueologia. Alguns teóricos atualmente não cheguam a considerar o Histórico-Culturalismo como uma corrente teórica, e sim como um método bem incipiente mas relevante. Ela atualmente foi praticamente superada, embora em alguns países e alguns pesquisadores ainda a usem.


Podemos ver que a arqueologia começa a se aproximar do que temos hoje, e esse processo vai sendo construído aos poucos, passando pelo Histórico-Culturalismo, Processualismo, Pós-processualismo. E cada vez mais o foco da arqueologia é estudar o homem e não somente o objeto material, cada vez mais se busca entender quem era aquele homem, aquele povo, como viviam, como era sua cultura, seja material e imaterial, tendo sempre como ponto de partida o vestígio material.


Espero que você tenha gostado e aprendido um pouco sobre arqueologia e nos vemos na próxima publicação.






Bibliografia:


LANGER, J. As origens da Arqueologia Clássica. Rev. do Museu de Arqueologia e Etnologia, São. Paulo, 9: 95-110, 1999


TRIGGER, Brucce G. História do Pensamento Arqueológico. Odysseus. 2004

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