Por que eu escolhi estudar arqueologia?


Eu gosto do passado, da história, e como criança mantenho uma curiosidade que me faz ir atrás e entender como são as coisas, mas sempre numa abordagem bem genérica e macro das coisas, pois gosto de entender como os inúmeros processos se cruzam e se alteram mutuamente. Uma vez ouvi uma expressão onde se falava em "panconhecimento", ou seja um conhecimento geral que abarque várias áreas do conhecimento. Acho isso interessante e gosto de conversar e aprender sobre muitas coisas que a princípio não tem muita relação, e encontrei na arqueologia isso, pois é uma área que tem intima relação com muitas áreas do conhecimento, desde ciências exatas a humanas. A arqueologia me permite caminhar por muitas áreas, na verdade a arqueologia obriga o estudante a andar por muitas áreas e pisar em terrenos novos com muita frequência, o que no fim tornou a arqueologia muito atraente pra mim.

Mas eu não cheguei e reconheci de pronto isso na arqueologia, na verdade minha caminhada até descobrir a arqueologia foi grande e errática até. Minha primeira graduação, inconclusa, foi de história, pois gosto muito e é essencial para arqueologia esse transito com a história, porém não me via como um historiador, não era isso exatamente que eu queria. Abandonei a graduação de história, um pouco por não desejar tanto, e muito mais porque não tive condições financeiras e tempo no momento. Mas eu tinha certeza de que queria fazer uma faculdade.

Em minha família o trabalho manual sempre foi muito presente, e eu sempre fiz muita coisa, marcenaria, ferreiro, construindo coisas em geral, esse é o meu hobby, e trabalho atualmente como pedreiro. Sempre gostei muito de acampar e de aventuras em ambiente selvagem. Por conta disso comecei a buscar conhecimento de técnicas mateiras, bushcraft em inglês se preferir, e nessas técnicas mateiras logo de cara os conhecimentos de povos tradicionais se destacam enormemente, por que conseguem e devem realizar seus trabalhos e criar suas ferramentas utilizando materiais primitivos, então passei a buscar conhecimentos indígenas sobre como fazer fogo, conseguir água potável, conseguir alimento, e  afins, e daí cheguei nas técnicas de confecção de laminas de pedra lascada e no quão complexo é esse conhecimento, assim como fazer fogo por fricção, que parece muito bonito e fácil nos programas de sobrevivência, mas que, admito, até hoje não consegui faze-lo por fricção.

A partir daí eu me dei conta do quão rico é nosso passado e nossa pré-história (tenho horror a esse termo e um dia lhes explico o por quê) e a arqueologia passou a fazer muito sentido pra mim, onde ter o conhecimento e familiaridade com as técnicas de trabalhos manuais, bem como meu interesse e conhecimento sobre várias coisas se viram contemplados na arqueologia.

Outro aspecto muito relevante da arquelogia pra mim, e das ciências humanas em geral, é tentar entender o homem, e o mundo que o cerca, e a partir daí poder jogar luz sobre as mazelas atuais e trazer um debate frutífero que possa cada vez mais emancipar o homem, porque a reificação do homem me perturba, a alienação do homem quanto a sua possibilidade como agente produtor de sua própria história me incomoda, por isso busco o conhecimento, por que acredito que com ele podemos ir adiante em direção de um mundo melhor. Trago em mim a responsabilidade de mudar o mundo, as vezes um pouco quixotesco, mas pra mim é necessário. Sou um guerrilheiro do conhecimento, e pra mim a arqueologia não é apenas um trabalho e uma profissão que me garantirá meu sustento e de meu filho no futuro, mas também uma ferramenta para modificar o mundo, se não for assim não me serve.

Espero que você tenha gostado e aprendido um pouco sobre arqueologia e nos vemos na próxima publicação.

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